Sob a pressão das redes sociais e de diferentes segmentos da mídia, cinco parlamentares da Assembleia gaúcha, Catarina Paladini (PSB), Manuela D’Ávila (PCdoB), Pedro Ruas (PSOL), Miriam Marroni e Jeferson Fernandes, ambos do PT, cancelaram o projeto de lei por eles assinado cujo objetivo era o de conceder passe livre para apenados do semiaberto, para seus filhos e cônjuges em ônibus intermunicipais. A iniciativa, por ora frustrada, não só ignorava, mas ia de encontro ao clamor público, pois, a cada dia, os cidadãos veem a bandidagem chegar às portas de suas casas e, como a mais positivas das respostas, ouvem das autoridades: – Liguem para o 190. Nesta ligação, sigam-me.
Sobrevivência
O projeto foi retirado, mas a ideia permanece latente. É o ovo da serpente que está sob os cuidados não apenas desses cinco membros do nosso parlamento. Não é por acaso que a nossa legislação se mostra frágil, plena de benesses para infratores e criminosos. Não é por acaso que as organizações policiais, de forma cíclica, são enfeitadas com viaturas novas distribuídas para efetivos defasados e sem nenhuma estrutura de manutenção, o mesmo acontecendo com câmeras de vigilância, além da carência de outros equipamentos como armas, coletes balísticos e combustível.
No RS, com amplo destaque para Porto Alegre e Região Metropolitana, bandidos e contraventores montam suas fortalezas não somente ao aproveitar os flancos deixados pela política de segurança pública, como também, através de subterrâneo tráfico de influência, inclusive na área política, pois têm bala na agulha para diferentes tipos de escambo. Hoje, todos os centros de distribuição de drogas estão mapeados, inclusive o que está instalado a dois quarteirões do Palácio da Polícia, todos os grandes banqueiros do jogo do bicho, que lavam dinheiro livremente, estão identificados, os roteiros dos ladrões de carros são conhecidos, os comandos sediados nas casas prisionais são vigiados, mas temidos, e tudo funciona numa espécie de pacto de sobrevivência instintiva semelhante ao que as pulgas fazem com os cães. Assim é que, na visão deste humilde marquês, a aparentemente simplória e humanística ideia do passe livre para os sofridos apenados do regime semiaberto e sua parentela, tida como frustrada, está viva e poderá vir a ser, dentro dos costumes vigentes, voltar a ser apresentada com outra maquiagem.
Wanderley Soares
O SUL