Fernando Pessoa disse que a sensibilidade é pessoal e intransmissível. Talvez o que se possa chamar de dom. Acompanhei as impressões virtuais de amigos que trabalharam na segurança da Copa do Mundo em Porto Alegre. Como o Tenente Claudio Bayerle e o seu olhar especial. Ele não é apenas um colega de farda, é também irmão de letras. Professor e escritor, organizou a coletânea do contos “O Outro Lado da Farda” e tantos outros trabalhos literários. Oficial da Brigada Militar. Hoje no 9º BPM, centro da capital, coordena cursos de sargentos. Bayerle tem 28 anos de histórias para contar de bons combates. Uma vida. E neste momento histórico – que outras gerações verão uma Copa no país? -, postou com entusiasmo juvenil seus momentos no Batalhão Copa e suas atuações no perímetro vermelho, o coração dos eventos.
Bayerle é disciplinado. Para ele, missão dada é missão cumprida, não quer saber de discussões com algum outro viés político. Recebeu a incumbência de proteger e, como tantos outros policiais federais, civis e militares, aí manteve seu foco. Mas se permite um entusiasmo de escritor ao falar das pessoas que conheceu, da diversidade, do conhecimento que acumulou. Da troca de lembranças e brasões entre policiais, assim como os jogadores em campo trocaram flâmulas. E se emociona ao citar a Banda da Brigada Militar com a torcida cantando junto, e quando a ela se juntaram músicos holandeses ou bandinhas alemãs.
É claro que algum problema houve, não se reúne seres humanos sem rusgas. Nem show religioso consegue tal milagre. Mas me garantiu: foi quase nada se comparado à multidão que esteve no Beira-rio e seu entorno. Cambistas irregulares, ingressos falsos, pequenos furtos. Mais no dia em que vieram os argentinos, eles próprios sendo autores e vítimas da confusão natural. Pouquíssimos casos na comparação com os milhares de hermanos que vieram. Contou da surpresa dos alemães com seus “fakes” no estádio – brasileiros das colônias gaúchas, trajados tipicamente e enrolados em bandeiras. Sentiram-se em casa. Tanto que nos deram aquele baile, nas semi.
Bayerle que levou da internet à realidade o sonho da Avenida Fernandão. Falou com comando, prefeito, diretoria do Inter. E um artista brigadino fez a placa que lá está até hoje em justa homenagem a um ícone de todas as torcidas pelo seu caráter. Agora, é com a Câmara de Vereadores e EPTC dizer o sim definitivo. Será um belo legado do Mundial. Assim como o gesto de Bayerle e tantos outros ao nos narrar, com dedicação e sensibilidade ímpar, a beleza que foi ter a Copa nos pampas.
Por Oscar Bessi Filho
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Postado por Comunicação DEE ASSTBM