Base aliada começa a sentir desgaste político das medidas
Passados dez dias da publicação do decreto do Palácio Piratini que readequou o orçamento do Estado, diminuindo em pelo menos R$ 1 bilhão as despesas no ano, a base aliada começa a sentir o desgaste político das medidas. Ao mesmo tempo, representantes dos setores da saúde, segurança e educação apresentam dados para demonstrar o quanto as áreas foram atingidas.
“O governo simplesmente está transferindo responsabilidades. Desde o início de fevereiro tínhamos conhecimento do corte e estabelecemos uma discussão. Há duas semanas, falamos com o governador, que ficou de nos dar uma resposta. Temos uma assembleia no dia 10, na qual tomaremos um posicionamento definitivo”, alerta o presidente da Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes, Religiosos e Filantrópicos do RS, Julio de Matos.
Conforme os números da federação, os cortes incluem R$ 25 milhões mensais que deixaram de ser repassados às instituições a partir de janeiro, quando teve início a atual administração. São valores relativos ao cofinanciamento estadual, utilizado para reduzir o déficit decorrente dos atendimentos pelo SUS. “São R$ 300 milhões ao ano. Isso sem falar nos R$ 132,6 milhões dos repasses atrasados de outubro e novembro, que não recebemos, e sobre os quais não há qualquer encaminhamento”, afirma Matos. Entre as consequências, ele lista o agravamento das situações das santas casas em Rio Grande, Ijuí, Candelária, Bagé, Santana do Livramento e Uruguaiana.
Na área da segurança, a lista de problemas também é extensa. Segundo dados da Abamf, que reúne os servidores de nível médio da Brigada Militar, viaturas que antes percorriam 80 quilômetros por dia tiveram os percursos máximos reduzidos para 30 quilômetros em função do contingenciamento de gasolina. “A ordem é que as viaturas fiquem em PB (ponto fixo). Não fazem policiamento, só atendem a ocorrências”, aponta o presidente da entidade, Leonel Lucas.
Ele adianta ainda que, ao contrário do que ocorria anualmente na Páscoa, quando parte do efetivo era deslocada ao Litoral porque muita gente passa lá o feriado, neste ano, para conter despesas, não há previsão de deslocamento. Segundo Lucas, além do efeito imediato, o contingenciamento gera ainda projeções negativas. Ele cita como exemplo as informações de que o governo pode extinguir ou diminuir a chamada gratificação de permanência, o que gerou uma enxurrada de pedidos de aposentadoria. “No ano passado inteiro, 800 brigadianos saíram da corporação. Este ano, devido aos boatos, em dois meses e meio já são 1,2 mil pedidos”, revela.