ZERO HORA: Policiais militares e civis se aliam e acenam com greve geral

Medidas contra a crise financeira no Estado causaram clima de indignação em sindicatos da Segurança Pública Foto: Marcelo Oliveira / Agencia RBS
Medidas contra a crise financeira no Estado causaram clima de indignação em sindicatos da Segurança Pública
Foto: Marcelo Oliveira / Agencia RBS

Paralisação na área ainda é estudada, mas entidades que representam Brigada Militar e Polícia Civil se uniram para ganhar força contra medidas “impopulares” de Sartori

Duas corporações que trabalham em conjunto pelo mesmo serviço à população, mas que convivem com uma certa rivalidade interna na estrutura da Segurança Pública, se uniram por interesses em comum em torno de suas representações sindicais. Escudadas no clamor social por mais segurança e motivadas, principalmente, pelos cortes promovidos pelo governo em nome da crise financeira, as entidades que representam a Brigada Militar e a Polícia Civil se aproximaram e passaram a escancarar um clima de insatisfação geral contra o discurso adotado pelo Palácio Piratini.

O corte de horas extras, parcelamento de salários e a falta de investimentos somados a carências históricas na área causam grande preocupação entre sindicatos e associações. Internamente, os servidores entendem que as medidas tomadas pelo governador José Ivo Sartori tiraram a “motivação” de policiais militares e civis. A resistência ao Executivo aumenta a cada dia, pois as ações do governo – tidas como impopulares pelas categorias – provocaram constrangimento em ambas as corporações.

Por enquanto, ações mais contundentes ainda estão sendo estudadas e não há consenso sobre paralisação ou possibilidade de greve geral na Segurança, como ocorreu em 1997, no governo de Antônio Britto, e também em 2004, com Germano Rigotto. Porém, pelo menos duas assembleias de categorias já estão marcadas, e há fortes indícios de que o assunto entrará na pauta em breve, podendo atingir mais um governo do PMDB.

Entre as entidades que assumem publicamente o indicativo de greve está a Ugeirm-Sindicato, que representa os escrivães, inspetores e investigadores de polícia do Rio Grande do Sul. Recentemente, no final de abril, a categoria promoveu uma paralisação de 24 horas.

— A onda de violência nas ruas vem crescendo muito e atingiu níveis alarmantes, o que não tínhamos visto até então. Mesmo com o clamor popular, o governo não dá sinais positivos para a categoria — diz o vice-presidente da Ugeirm-Sindicato, Fábio Castro.

Aparício Santellano, presidente da Associação dos Sargentos, Subtenentes e Tenentes da Brigada Militar (ASSTBM), comemora a aproximação com os servidores da Polícia Civil e afirma que fará viagens ao interior do Estado para buscar mais apoio ao movimento.

— Nunca vi uma mobilização tão forte. O governo criou uma falsa expectativa e não cumpriu nada. Vamos fazer contato com unidades do interior para obter um apoio maciço, sabendo que logo ali na frente pode ter uma greve geral. A Brigada está fechada com a Polícia Civil.

Amparado em uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), a partir de uma ação que teve início em 2007, ainda no governo Yeda Crusius, o Sindicato dos Servidores da Polícia Civil (Sinpol-RS) cobra o cumprimento da sentença que proíbe atraso ou parcelamento dos salários do funcionalismo.

— Há risco de medidas mais fortes contra o governo sim. O clima é de insatisfação geral. Tem muita gente indignada com o que está acontecendo — relata o segundo vice-presidente do Sinpol-RS, Rogério Bilhalva.

Com o mesmo tom nas críticas ao governo, mas um pouco mais cautelosa no assunto greve, a Associação dos Delegados de Polícia do Rio Grande do Sul (ASDEP-RS) entende que é preciso calma para tratar do tema. Por outro lado, ingressou com um mandado de segurança na Justiça para tentar garantir uma multa diária de R$ 100 mil ao governador Sartori caso ele descumpra a ordem judicial que determina o pagamento dos salários em dia. Nesta quinta-feira, o pedido foi negado pelo Tribunal de Justiça.

— Já tomamos várias atitudes, inclusive judiciais, proibindo algumas medidas. Não se pode deixar de pagar o salário dos servidores. Mas estamos trabalhando com calma, temos uma postura séria, transparente e leal aos nossos princípios – ameniza o delegado Wilson Müller Rodrigues, presidente da associação.

O representante da Associação dos Oficiais da Brigada Militar (ASOFBM), por sua vez, considera que o momento é delicado e grave.

— É uma união praticamente inédita das entidades da segurança. Estamos passando por um momento muito grave. A Segurança Pública é prioridade. O governo não tem o direito de mexer na motivação da polícia. Atos ilegais devem ser combatidos em vários eixos — avalia o coronel Marcelo Gomes Frota.

— Nós estamos algemados, não temos mais liberdade. A sociedade pede e não conseguimos atender. Cortaram horas extras, diárias, falta efetivo nas ruas, dinheiro para viagens. Existem cidades do interior que não têm um brigadiano sequer. O governo massacra os brigadianos — ressalta o presidente da Associação de Cabos e Soldados da Brigada Militar (Abamf), Leonel Lucas.

Duas categorias já convocaram assembleia para os próximos dias: a Asdep-RS se reúne nem 29 de maio, enquanto a Ugeirm-Sindicato promoverá encontro no dia 8 de junho.

Estado tem limitação financeira, argumentam secretários

Diante das críticas das categorias, o secretário estadual de Segurança Pública (SSP), Wantuir Jacini, entende que é “compreensível que haja insegurança com relação ao futuro”, em função da crise financeira do Estado e do País.

— É preciso observar que não só o Estado, mas o País como um todo atravessa uma forte crise econômica. É compreensível que, em um contexto como esse, haja insegurança com relação ao futuro próximo e que essa incerteza atinja os servidores públicos — destacou.

Ainda conforme Jacini, a possibilidade de greve ainda não é cogitada pelo governo porque o diálogo com a categoria está aberto e o Piratini vem atendendo às reivindicações, como a manutenção dos salários de abril.

— Atendemos e atenderemos a todos os pedidos de audiência solicitados pelas entidades. Por um dever constitucional, faremos tudo ao nosso alcance para não chegarmos a este ponto (greve), até porque confiamos que as medidas que estão sendo adotadas vão ao encontro dos interesses dos servidores, e confiamos na responsabilidade destes para com a sociedade gaúcha — salientou o secretário.

Já o titular da Casa Civil, secretário Márcio Biolchi, tratou de amenizar o clima de insatisfação que, segundo ele, é compartilhado pelo governo estadual. Porém, reforçou que o Estado enfrenta uma profunda crise financeira.

— A preocupação das entidades é tão intensa quanto a preocupação do governo. Temos dedicado todos os esforços para manter as atividades dos servidores. Reconhecemos a parcela do mês de maio e entregamos já neste ano cerca de 250 viaturas. Sabemos da legitimidade dos seus pleitos. Agora, esta não é uma opção do governo (de parcelar salários). O Estado tem limitação financeira. Cobrar do governo o que ele não tem condições de entregar não vai resolver nosso problema.

*Zero Hora

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