Os professores estaduais decidem na tarde desta sexta-feira (11) se encerram ou deflagram greve por tempo indeterminado. Já os servidores da área da segurança devem terminar a paralisação ao final da tarde de sexta, entretanto podem retomar a greve no futuro. O certo mesmo é que nenhuma categoria irá arredar o pé do Palácio Piratini e da Assembleia, com o objetivo de pressionar o governo a retirar alguns dos projetos que afetam o funcionalismo. No caso dos deputados, para forçar a derrubada das propostas. O protesto também é pelo pagamento do salário em até quatro vezes – no final da quinta-feira (10), o governo confirmou o depósito da segunda parcela: R$ 800.
“Enquanto não alcançarmos nosso objetivo, vamos ficar”, avisa o diretor executivo do Sindicato dos Servidores

Penitenciários (Amapergs), Robson Cunha. “Não estamos aqui só pelo corte (parcelamento dos salários), mas pelas pautas da educação”, completa o professor Fábio André Pereira, integrante do núcleo do Cpers que representa as regiões leste e sul da Capital, que defende a continuidade da greve.
Pela Praça da Matriz, estão distribuídas muitas barracas de diferentes categorias, onde impera a solidariedade. O Centro dos Professores do Rio Grande do Sul (Cpers/Sindicato), o maior sindicato de servidores estaduais, tem o maior número de representantes divididos em duas barracas. Uma delas reúne representantes da direção e de diferentes os núcleos. “Aqui é o QG”, comenta uma das professoras. Nessa tenda, normalmente é feito o almoço compartilhado por todos os outros servidores das barracas. Já a tarefa do lanche da tarde é atribuição de outra categoria.

“Do café da manhã à janta, é todo mundo junto”, conta André Gonçalves, aprovado no concurso da Polícia Civil para inspetor e integrante do grupo da barraca do Sindicato de Escrivães, Investigadores da Polícia (Ugeirm). “Esses projetos são muito prejudicais aos servidores”, resume ele, sobre a unificação e solidariedade entre as categorias. Devido à situação , ele relata que só este ano – até o final de agosto – foram encaminhados 360 pedidos de aposentadorias de policiais civis.
O chimarrão e o cafezinho também podem ser compartilhados. Na barraca da Central Única dos Trabalhadores (CUT), por exemplo, a água do mate é esquentada nos vizinhos. Aliás, na tenda da CUT, há pessoas que vão ao local só para levar apoio ao funcionalismo, já que não são atingidos pelos projetos do governo do Estado e nem recebem o salário parcelado. Esse é o caso da servidora federal aposentada Maura Costa. “É importante somar, muitas pessoas estão vindo como apoio. Os aposentados estão apoiando, porque ficamos preocupados com a segurança, educação e saúde”, justifica ela, que no passado já foi funcionária do Estado.

Já o aposentado Dagoberto Valterman é afetado tanto pelo parcelamento quanto pelos projetos que podem ser aprovados pela Assembleia Legislativa. Militar da reserva, ele é o responsável pelo acampamento da categoria e representa a Associação dos Sargentos, Subtenentes, Tenentes e Bombeiros da Brigada Militar (Asstbm). “Nós vamos indo, estamos brigando por mais investimentos na saúde, educação e segurança”, destaca ele, sobre o tempo incerto do acampamento. Na entrada da barraca dos policiais militares, há um banner com a foto de todos os deputados que votaram pelo congelamento do orçamento na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).

Os servidores se revezam no acampamento. Normalmente, durante o dia há um maior número de funcionários pelas barracas. Já à noite, boa parte fica aberta, porém com menor número de integrantes. O Cpers tem, inclusive, um alojamento para os professores dormirem – em uma das assembleias da categoria foi aprovado um fundo de greve que hoje custeia as despesas. “A gente pega 10 (professores) para ficar à noite”, diz a diretora de Juventude do Cpers, Ananda de Carvalho. Os sindicatos instalados na Praça da Matriz também contrataram segurança para ajudar na proteção, já que consideram “o lugar perigoso” ao cair da noite.
No final da tarde desta quinta-feira (10), a chuva e a queda rápida da temperatura não desmobilizaram os servidores, que se apertaram mais nas rodas dentro das barracas para escapar dos pingos d’água. Na tenda que abriga a direção do Cpers foi preciso tirar a água que se acumulou na lona que dava suporte à barraca.

A criação da Lei Estadual de Responsabilidade Fiscal, a transformação da licença-prêmio em capacitação e a instituição da previdência complementar para futuros servidores estão entre os projetos que geram o maior protesto das categorias. As propostas devem começar a ser debatidas na Assembleia na próxima semana. “Antes, a gente fazia greve por aumento de salários, agora a gente faz por dignidade e em defesa do serviço público”, compara a professora Fátima de Magalhães, vice-presidente-geral do 39º Núcleo do Cpers.
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