O ex-secretário nacional de Segurança Pública, Luiz Eduardo Soares, acredita ser ineficiente, neste momento, a presença da Força Nacional de Segurança para tentar minimizar a violência em Porto Alegre. O antropólogo e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, participa, hoje, na Capital, de Audiência Pública sobre a Segurança, promovida pelo Tribunal de Contas do Estado. Questionado sobre o pedido do prefeito José Fortunati para que a Força Nacional atuasse em Porto Alegre, já que a criminalidade vêm crescendo na cidade, o especialista apontou que somente a ampliação do número de policiais nas ruas seria ineficiente. Para o especialista, há necessidade de focar na prevenção da criminalidade.
“De uma maneira geral, a Força Nacional não costuma ser muito eficiente porque apenas amplia a presença policial de modo muito provisório e precário, insuficiente. A Força Nacional é um grupamento limitado, é uma seleção de policias militares do Brasil todo, portanto são profissionais qualificados, que entretanto não conhecem a região na qual atuam. De um modo geral, eles atuam em estados distintos daqueles dos quais provêm. Portanto, eles têm uma eficiência inferior àquela que encontramos nos policiais que atuam nas regiões conhecidas. E eles são deslocados apenas para circunstâncias muito emergenciais e, portanto, não me parece que essa seja uma solução. No caso de uma emergência, de uma situação urgente, é claro que sempre qualquer apoio é relevante. Mas, dificilmente apenas a ampliação numérica de policiais ostensivos uniformizados resolveria o problema, até porque eles não podem se estender no tempo, já que a Força é convocada para atender situações críticas em todo o Brasil”, afirmou o especialista.
De acordo com o especialista, somente 8% dos casos de homicídios no Brasil são investigados. Com isso, 92% dos homicídios dolosos caem na estatística da impunidade, já que não são nem investigados. Atualmente, segundo o professor da UERJ, há 640 mil pessoas encarceradas no Brasil. Deste número, somente 12% cumprem pena por homicídio. Pelo menos dois terços dos presos cumprem pena por crimes contra o patrimônio. “Temos um problema gravíssimo em termos de prioridade”, apontou Soares. A política de encarceramento, para o ex-secretário de Segurança do Rio de Janeiro, somente atinge um público específico: negros e pobres. “O encarceramento como política. Mas quem tem sido alvo nesse ‘investimento institucional’? Sabemos bem o perfil dos presos”, lamenta.
O Tribunal de Contas do Estado (TCE) realiza até amanhã a audiência pública que discute as dificuldades enfrentadas no Rio Grande do Sul para administrar as políticas de segurança. O encontro acontece no prédio 11 da PUCRS. Para esta terça-feira, é aguardada a presença do secretário de Segurança Pública do Rio Grande do Sul, Wantuir Jacini.