“Espero que o governo reveja sua política de segurança”, diz chefe de Polícia exonerado

17941027Um dia após demissão, delegado Guilherme Wondracek avalia que mudança no comando da Polícia Civil passou por questão “pessoal”

Um dia após ser exonerado do posto máximo da Polícia Civil gaúcha, o delegado Guilherme Wondracek não escondeu a insatisfação com a medida – que avalia como “pessoal” – e pediu que a Secretaria da Segurança reveja a política para a área no Rio Grande do Sul. Em entrevista nesta quinta-feira (11) aoGaúcha Atualidade, Wondracek comentou as razões pelas quais acha que foi demitido, a falta de pessoal e a legislação.

O agora ex-chefe de Polícia será substituído pelo atual diretor do Departamento Estadual de Investigação do Narcotráfico (Denarc), Emerson Wendt.

“Desejo todo o sucesso ao delegado Emerson, que é muito competente, tanto que o escolhi para ser diretor do Denarc. Só espero que o governo reveja a sua política quanto à segurança pública, senão o Emerson talvez não o sucesso que esperamos”, afirmou Wondracek.

Questionado sobre os motivos da substituição, o delegado exonerado diz que foi chamado às pressas, no primeiro dia de férias, para ser informado da mudança.

“Fui o único da segurança pública exonerado, acho que era uma questão pessoal comigo. Já há alguns meses sentia que existia um desconforto com a minha pessoa”, disse.

Oficialmente, o ex-chefe de Polícia ouviu da Secretário da Segurança que o governo estava preocupado com os indicadores de criminalidade, que seriam decorrentes do tráfico de drogas. Por isso, a opção seria por colocar um especialista.

Wondracek também descreveu o clima na corporação, após a mudança de governo. Segundo ele, os policiais, hoje, não estão motivados.

“Os policiais estavam acostumados com promoções nos períodos certos, diárias abundantes, horas extras. De um tempo para cá, passaram a conviver com a incerteza de saber se vão ter o salário pago no fim do mês”, disse o delegado.

Segundo o ex-chefe de Polícia, o discurso de investimento em tecnologia não é suficiente para contornar a crise na segurança pública.

“Computadores não fazem campana, não atendem pessoas e não falam com informantes. Só se faz um bom trabalho com gente para desempenhar”, afirmou Wondracek, que lembrou ainda que há 670 pessoas aprovadas em concurso para inspetor e escrivão aguardando chamamento.

Legislação
O delegado Wondracek também comentou o aumento nos indíces de criminalidade. Segundo ele, isso não passou pelo trabalho da Polícia Civil, que aumentou nos últimos anos o índice de resolução de crimes. Para o delegado, o problema envolve a legislação.

“Ninguém fica preso. Do tempo que fui diretor do Deic, houve um indivíduo presos três vezes na minha administração, envolvido com o roubo de veículos. Foi reconhecido por oito vítimas. Mas está solto”, lamentou. “Enquanto não mudar a legislação e a forma como alguns juízes tratam a matéria, isso (a criminalidade) continuará acontecendo”, concluiu.

 

GAÚCHA
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