Um dia após demissão, delegado Guilherme Wondracek avalia que mudança no comando da Polícia Civil passou por questão “pessoal”
Um dia após ser exonerado do posto máximo da Polícia Civil gaúcha, o delegado Guilherme Wondracek não escondeu a insatisfação com a medida – que avalia como “pessoal” – e pediu que a Secretaria da Segurança reveja a política para a área no Rio Grande do Sul. Em entrevista nesta quinta-feira (11) aoGaúcha Atualidade, Wondracek comentou as razões pelas quais acha que foi demitido, a falta de pessoal e a legislação.
O agora ex-chefe de Polícia será substituído pelo atual diretor do Departamento Estadual de Investigação do Narcotráfico (Denarc), Emerson Wendt.
“Desejo todo o sucesso ao delegado Emerson, que é muito competente, tanto que o escolhi para ser diretor do Denarc. Só espero que o governo reveja a sua política quanto à segurança pública, senão o Emerson talvez não o sucesso que esperamos”, afirmou Wondracek.
Questionado sobre os motivos da substituição, o delegado exonerado diz que foi chamado às pressas, no primeiro dia de férias, para ser informado da mudança.
“Fui o único da segurança pública exonerado, acho que era uma questão pessoal comigo. Já há alguns meses sentia que existia um desconforto com a minha pessoa”, disse.
Oficialmente, o ex-chefe de Polícia ouviu da Secretário da Segurança que o governo estava preocupado com os indicadores de criminalidade, que seriam decorrentes do tráfico de drogas. Por isso, a opção seria por colocar um especialista.
Wondracek também descreveu o clima na corporação, após a mudança de governo. Segundo ele, os policiais, hoje, não estão motivados.
“Os policiais estavam acostumados com promoções nos períodos certos, diárias abundantes, horas extras. De um tempo para cá, passaram a conviver com a incerteza de saber se vão ter o salário pago no fim do mês”, disse o delegado.
Segundo o ex-chefe de Polícia, o discurso de investimento em tecnologia não é suficiente para contornar a crise na segurança pública.
“Computadores não fazem campana, não atendem pessoas e não falam com informantes. Só se faz um bom trabalho com gente para desempenhar”, afirmou Wondracek, que lembrou ainda que há 670 pessoas aprovadas em concurso para inspetor e escrivão aguardando chamamento.
Legislação
O delegado Wondracek também comentou o aumento nos indíces de criminalidade. Segundo ele, isso não passou pelo trabalho da Polícia Civil, que aumentou nos últimos anos o índice de resolução de crimes. Para o delegado, o problema envolve a legislação.
“Ninguém fica preso. Do tempo que fui diretor do Deic, houve um indivíduo presos três vezes na minha administração, envolvido com o roubo de veículos. Foi reconhecido por oito vítimas. Mas está solto”, lamentou. “Enquanto não mudar a legislação e a forma como alguns juízes tratam a matéria, isso (a criminalidade) continuará acontecendo”, concluiu.