Receio é que modelo de paralisação do Espírito Santo, com famílias barrando a saída dos policiais, seja adotado em outros locais
O Palácio do Planalto monitora com preocupação a greve da polícia militar do Espírito do Santo. Existe o receio de que o modus operandi da paralisação capixaba, com as famílias barrando a saída dos policiais dos batalhões, seja adotado em outros Estados. O governo Temer já enfrenta desgaste provocado pelas chacinas registradas em presídios de Roraima, Natal e Amazonas no mês passado.
“Se esse modelo do Espírito Santo se espalhar, será um caos. Rio de Janeiro e São Paulo preocupam bastante”, descreve um auxiliar do presidente Michel Temer.
Dentro do governo, admite-se que a estratégia de “greve branca” em busca de reajuste salarial foi bem articulada. Como a Constituição proíbe a greve de militares, encontrou-se uma saída alternativa: familiares montaram acampamentos na frente dos batalhões, impedindo o trabalho. Sem PMs nas ruas, a ação coordenada criou o cenário para a onda de saques, assaltos e assassinatos dos últimos dias na Grande Vitória e no interior do Espírito Santo.
Um dos Estados que preocupa o Planalto, o Rio de Janeiro, antecipou-se a uma possível paralisação. Mesmo com uma severa crise financeira, o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) anunciou que os salários dos servidores das áreas de segurança e educação serão pagos na próxima terça-feira. Junto, sairá um aumento de até 10,22% nos contracheques de policiais militares e civis, bombeiros, agentes penitenciários e demais funcionários das secretarias de Segurança e Administração Penitenciária.
O Rio Grande do Sul, em razão do parcelamento de salários, também está no radar do governo federal. Os ministérios da Justiça e Defesa, além do Gabinete de Segurança Institucional, alimentam o Planalto com informações e discutem com o governo capixaba as saídas para a crise. Entre Forças Armadas e Força Nacional, um efetivo de 2 mil homens atuará no Espírito Santo. Também haverá reforço na Polícia Rodoviária Federal para patrulhar rodovias.
“Os ministérios estão muito atentos ao que se passa no Espírito Santo, não apenas pela repercussão local, mas pela repercussão e dimensão nacional”, afirmou o deputado Lelo Coimbra (PMDB-ES), após uma reunião no Ministério da Justiça na quarta-feira.
Em Brasília, corre a avaliação de que o governo estadual e o próprio governo federal demoraram a reagir diante da greve da PM, que parecia um protesto pontual na sexta-feira. No mesmo dia, o governador Paulo Hartung estava em São Paulo para uma cirurgia de retirada de um tumor na bexiga. Apesar da licença médica de Hartung, o governo do Estado só foi transmitido oficialmente ao vice César Colnago no domingo, com policiais já aquartelados. Ainda houve a troca do comando da PM, com a assunção do coronel Nilton Rodrigues ao cargo, e a decisão de endurecer o discurso com os grevistas.
Já em Brasília, o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, estava empenhado por sua campanha pela indicação ao Supremo Tribunal Federal, confirmada na segunda-feira. Assim, o caos na segurança do Espírito Santo não teria recebido a devida importância. Interino à frente da pasta, devido à licença de Moraes, José Levi assumiu as tratativas. Uma das medidas efetivas foi adotada na terça-feira, com a publicação pelo governo capixaba de um decreto que transferiu o controle operacional dos órgãos de segurança pública para o general de brigada Adilson Carlos Katibe até o dia 16 de fevereiro.
GAÚCHA