SUL21: Cerca de 60% dos 497 municípios do RS tem menos de dois brigadianos por turno, diz Famurs

13/03/2017 – PORTO ALEGRE, RS – Audiência pública da Comissão Especial da Segurança Pública, na Assembleia Legislativa. Na foto: Secretário Estadual de Segurança, Cezar Schirmer. Foto: Guilherme Santos/Sul21

Marco Weissheimer

Cerca de 60% do total de 497 municípios do Rio Grande do Sul tem menos de dois policiais militares atuando por turno. O dado foi apresentado no início da noite desta segunda-feira (13) pelo vice-presidente da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), Marcelo Schreinert, durante audiência pública da Comissão Especial de Segurança Pública, realizada no Plenarinho da Assembleia Legislativa. A audiência contou com a presença de parlamentares, autoridades da área da segurança e prefeitos de vários municípios, entre eles alguns que sofreram ataques recentemente de quadrilhas fortemente armadas que se aproveitam da ausência de policiamento para praticar assaltos a agências bancárias.

“Estamos vivenciando um momento de terror no Rio Grande do Sul, especialmente nos pequenos municípios do interior que tem um policiamento muito defasado”, disse o deputado Ronaldo Santini (PTB), presidente da Comissão. Reforçando o dado apresentado pelo representante da Famurs, Santini assinalou que em vários desses municípios há rodízios nas rondas, o que faz com que apenas uma dupla de policiais fique com a tarefa de cobrir toda uma região. “O crime está organizado e aproveitando esse sistema de rodízios para praticar assaltos a bancos”, acrescentou o parlamentar.

O prefeito de Fontoura Xavier, José Flavio Godoy da Rosa, relatou o clima de terror que o pequeno município, localizado no norte do Estado, viveu no dia 8 de março quando um grupo mascarado com armas de grosso calibre atacou agências do Banrisul e do Banco do Brasil. “Parece que nunca vai acontecer conosco, mas aconteceu. O que fazer na hora? Ligar para a polícia seria a resposta. Mas Fontoura Xavier tem apenas dois PMs que fazem ronda na região e um policial civil. O secretário de Saúde do município foi o primeiro a ser atacado e levado para um cordão humano de isolamento. Eles levaram o dinheiro do cofre, dos caixas eletrônicos e disseram para as pessoas que estavam lá que não queriam o dinheiro delas, só o do governo”, relatou. O prefeito desabafou: “Sem segurança, não tem mais como viver no interior. O comandante da Brigada em Carazinho disse para nós que não tem como enviar mais policiais para o município”.

Comissão ouviu relato de prefeitos de pequenos municípios que relataram clima de horror vivido durante assaltos a bancos em suas cidades. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

Uma ação semelhante ocorreu dia 6 de fevereiro em Miraguaí, município com aproximadamente 5 mil habitantes, localizado na região noroeste do Estado. O prefeito Ivonir Botton relatou como foi a ação contra os bancos Banrisul e Sicredi. “Os assaltantes renderam o policial, o amarraram em cima de um carro e desfilaram com ele pela cidade. Depois o soltaram e colocaram fogo no carro. A população está com medo e não quer mais ir aos bancos. O que ocorreu afetou todo o comércio da cidade”, disse Botton. Segundo o prefeito, os criminosos fugiram pela reserva indígena localizada no município, onde só a Polícia Federal pode entrar.

Carlos Luiz Rohr, prefeito de Nova Candelária, município localizado na região da Grande Santa Rosa, noroeste do Estado, contou que no período entre 2012 e 2016 ocorreram sete assaltos a banco na cidade, numa média superior a um por ano. Em 2016, relatou, na mesma noite assaltaram o Banrisul e o Sicredi. “Entraram na casa do gerente da Sicredi. A paciência está se esgotando e o povo vai lá bater na casa do prefeito. Os assaltantes estão indo para esses municípios porque sabem que eles estão desprotegidos. Estamos nos propondo a ajudar, cedendo espaços físicos, colocando câmeras e centrais de monitoramento, mas é preciso ter a presença da Brigada”, afirmou Rohr.

Reconhecendo os esforços que vem sendo realizados pelos prefeitos, o deputado Altemir Tortelli (PT), ressaltou que os municípios não tem como substituir o trabalho do Estado na área da Segurança Pública. Nos últimos dois anos, assinalou o deputado, a Brigada Militar perdeu cerca de 3.100 homens e apenas 770 foram repostos. “Não houve planejamento, nem estruturação de uma política de curto, médio e longo prazo”, acrescentou o deputado federal Marco Maia (PT-RS). “O que estamos vendo agora é um reflexo disso”, destacou.

Tortelli questionou a decisão da Secretaria de Segurança Pública que resolveu deslocar mais 400 policiais militares de cidades do interior para atuar em Porto Alegre e Região Metropolitana. Segundo o secretário Cezar Schirmer, que participou do final do encontro, a transferência será temporária e não trará prejuízos aos municípios do interior. De acordo com a Secretaria, “serão ampliadas as quotas de horas extras para os comandos regionais, havendo, assim, compensação ao policiamento ostensivo”. Com o encerramento da Operação Verão, informou ainda a SSP, o efetivo que estava no litoral retornará para os municípios do interior.

Schirmer defendeu a integração entre as polícias como fator fundamental para combater a criminalidade. “Não há como reverter a realidade de insegurança com ações estanques. É preciso a colaboração de todos os entes administrativos e de todas as forças, inclusive, da sociedade organizada”, afirmou o secretário.

Poucas horas após o final da audiência, uma nova ação aumentou a estatística de ataques a bancos cometidos em pequenas cidades do interior. Por volta das 2h30min desta terça, uma agência bancária do Banrisul foi atacada com explosivos em Três Cachoeiras, no Litoral Norte. O grupo de criminosos usou explosivos para abrir dois caixas eletrônicos da agência localizada no centro do município.

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