Em dois dias a Brigada Militar matou 10. Seis deles em Ibiraiaras, todos envolvidos no duplo assalto a banco que traumatizou aquela pequena cidade do Estado. Outros quatro foram mortos em perseguição em Arroio dos Ratos. Conforme descrição dos PMs, estavam armados (cinco armas foram apreendidas com eles) e se preparavam para assaltar uma agência bancária. Podem ser 11 os mortos, me aguardem.
Era esperado isso, após a eleição de um candidato presidencial cuja marca registrada é o gesto com as mãos de atirar. Não demorou. A população apoia. Votou nesse tipo de atitude. Os policiais gostam, se consideram valorizados.
O recado do presidente eleito Jair Bolsonaro, antes e depois de se eleger, é claro: criminoso armado é para ser enfrentado. Mais explícito ainda foi o governador eleito do Rio de Janeiro, o ex-juiz Wilson Witzel, bolsonarista, que cogita dar medalhas para atiradores de elite (snipers) que possam “abater” bandidos que ostentam fuzis — um cenário cotidiano no RJ.
Voltando ao RS, a BM agiu exemplarmente ao se antecipar aos assaltos, em Ibiraiaras e, ao que parece, também em Arroio dos Ratos. O problema – pois é, jornalista sempre pensando em problema, sem tempo para comemorar — é que atirar para matar pode trazer riscos indesejados. É o caso do 11º morto em tiroteio com a BM em dois dias. É o refém levado pelos ladrões no assalto a banco em Ibiraiaras. Não somei ele, propositalmente, aos 10 da contabilidade inicial porque não se sabe se os tiros que mataram o bancário foram disparados por policiais ou pelos bandidos. O certo é que ele tinha nome (Rodrigo Mocelin da Silva), era benquisto, nada fez de ruim e sangrou até morrer, no porta-malas de um carro em fuga.
É correta a troca de tiros quando se sabe que há reféns no carro dos bandidos? As academias policiais ensinam que não. A Justiça pode responsabilizar quem atirou. Mas muita gente boa parece tolerar esse risco. O importante é ver criminoso morto. Mesmo com possibilidade de efeito colateral – no caso, a vida de um inocente.
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