Criado em 2012 para reduzir a violência, programa leva policiais militares para morar nos bairros e se aproximar da população, diminuindo também a sensação de insegurança
Quinze dos 42 municípios do Interior com mais de 50 mil habitantescontam com programa de Policiamento Comunitário. A intenção daSecretaria da Segurança Pública (SSP) é implantar mais 48 postos distribuídos em 18 cidades até o final deste ano. Para isso, conta com um orçamento de mais de R$ 3,4 milhões.
Inspirado no conceituado modelo japonês de chuzaisho, o Policiamento Comunitário gaúcho leva policiais militares para morar nas comunidades de atuação. A ideia é aproximar o PM da realidade do bairro e fazer com que ele crie vínculos de confiança com os moradores e comerciantes.
– É diferente do que eu fazia antes. Agora, as pessoas conhecem a gente pelo nome, elas têm nosso telefone e não precisam ligar para o 190 para fazer uma denúncia ou pedir ajuda – afirma a soldado Jodicarla Rodrigues, 27 anos, responsável, junto com o colega Vitor Argenta, por um dos dois núcleos do Policiamento Comunitário do bairro Canudos, em Novo Hamburgo.
A cidade do Vale do Sinos, que está entre as mais violentas do Estado, conta com 12 núcleos e 48 policiais. Cada um deles recebe uma ajuda de custo do município de R$ 640, valor que também pode ser usado para pagar o aluguel daqueles que não eram moradores dos bairros onde atuam. A participação das prefeituras é vista como fundamental para a instalação do Policiamento Comunitário nas cidades.
– A ideia é que os municípios sejam corresponsáveis pela segurança pública. Essa é uma forma onde todos ganham – esclarece o secretário da SSP, Airton Michels.
Redução dos índices de criminalidade
Caxias do Sul conta com 23 núcleos e deve receber mais dois em 2014
Foto: Roni Rigon/ Agência RBS
De acordo como secretário, Caxias do Sul é a única cidade que já tem estatísticas comparativas, pois foi a primeira a receber a iniciativa em 2012. As demais ainda estão em fase de coleta de dados, mas a expectativa é que a redução dos crimes seja semelhante ao município da Serra.
Em pouco menos de dois anos, os bairros onde funcionam os 23 núcleos de Policiamento Comunitário conseguiram reduzir em 22,2% o roubo a estabelecimentos comerciais, em 33,6% o furto de veículos e em 57% o número de homicídios.
– Nossa intenção é reverter aquela fala da sociedade que diz que policial só aparece depois do crime – afirma Michels.
Porto Alegre ainda não tem previsão para receber o programa.
Mudança de pensamento é necessário
Na avaliação do coordenador da Pós-Graduação em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Rodrigo de Azevedo, o Policiamento Comunitário é uma das formas mais efetiva de reduzir a sensação de insegurança e o medo da polícia.
O pesquisador ressalta que este modelo é diferente do Policiamento Reativo, que é o padrão da polícia brasileira e no qual a reação ao crime é o ponto central e não a prevenção.
– Esse policial nem sempre vai resolver um crime, às vezes, será uma desavença ou mesmo só se mostrar presente. Esse é o diferencial – explica.
O professor de Direito Penal da Unisinos Fábio Motta Lopes também acredita que o Policiamento Comunitário é um dos caminhos para a melhora da segurança pública. A continuidade e o investimento a longo prazo são necessários para que o programa “não fique no meio do caminho”.
– Para que o Policiamento Comunitário dê certo, além da polícia agir de forma diferenciada, a sociedade também precisa apoiar essa ideia. Os dois lados precisam andar juntos – avalia Lopes.