FOLHA DE SP- A visão de país do deputado Jair
Se chegar lá, vou botar militares em metade dos ministérios, diz Bolsonaro
THAIS BILENKY
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
O deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), 61, promete nomear militares para metade de seu ministério se eleito presidente. Ele atribui seu desempenho –tem 9% das intenções de voto no Datafolha – à defesa da violência como meio para combater a violência.
Bolsonaro conversou com a Folha em seu gabinete na Câmara na terça (7) e por telefone na sexta (10). Disse que nem imprensa nem Supremo “vão me falar o que é limite”.
Ele determinou que um assessor filmasse a entrevista para evitar “deturpações”.
Folha – Sua candidatura nem sempre é levada a sério. Qual sua expectativa para 2018?
Jair Bolsonaro – Quando vou para qualquer capital de Estado, tem no mínimo mil pessoas me esperando. Tenho bandeiras que um presidente pode levar avante e o povo está gostando.
Quem sou eu na política perto de Serra, Aécio, Alckmin, Marina, Ciro? Ninguém. Sou um deputado que vocês chamam de baixo clero. Só que não sou uma coisa antes das eleições e outra depois.
Quais setores o apoiam?
Tenho simpatia enorme das Forças Armadas e auxiliares, do público evangélico.
Parte da comunidade judaica o apoia e parte diz que suas ideias fomentam neonazismo.
Só na cabeça de vocês. Onde tem uma frase minha, um gesto meu, um “heil, Hitler”?
O senhor diz que não defende tortura, mas acusa de vitimização quem a condena.
Quando disse “isso que dá torturar e não matar”, foi uma resposta para os vagabundos aqui que estavam se vitimizando que foram torturados pelos militares. Ninguém é favorável à tortura.
E a métodos de violência para obter informação?
Tem de ter métodos enérgicos. Eu proponho, o Congresso aprova. Ninguém é candidato para ser ditador.
O que é método enérgico?
Tratar o elemento com a devida energia.
Bater?
Qual o limite entre bater e tratar com energia? Não tem limite, pô. O cara senta ali, faz a pergunta, ele responde. Se não responde, bota na solitária. Fica uma semana, duas semanas, três meses, quatro meses… Problema dele.
Com comida?
Dá comidinha para ele, dá. Dá um negocinho para ele tomar lá, um pãozinho, uma água gelada, um brochante na Coca-Cola, tá tranquilo.
O que é brochante?
Calmante, um “boa-noite, Cinderela”.
Acha construtivo adotar um discurso violento?
Você não combate violência com amor, combate com porrada, pô. Se bandido tem pistola, [a gente] tem que ter fuzil.
O sr. não teme ser punido?
Por que seria? Eu tenho imunidade para quê? Sou civil e penalmente inimputável por qualquer palavra. Posso falar o que bem entender, isso é democracia. Já dei soco em alguém, dei tiro, dei coice?
Mas é réu por incitação ao crime de estupro e injúria.
Não vou discutir. Não é a imprensa nem o Supremo que vão falar o que é limite pra mim. Vão catar coquinho, não vou arredar em nada, não me arrependo de nada que falei.
O senhor é a favor que militares assumam postos como, por exemplo, no Congresso?
Pelo voto, pode assumir qualquer coisa. E tenho certeza que a gente vai botar muito militar aqui dentro em 2018.
O senhor já disse ser favorável a fechar o Congresso. Mudou?
Eu demonstrei uma indignação popular. Se você perguntar para o povo, ele diz que tem de fechar o Congresso e tocar fogo. Eu não vou pregar fechar o Congresso nunca. Mas vocês têm que ajudar a mudar isso aí [a qualidade do Legislativo].
O sr. disse que fuzilaria FHC.
Falei pela forma como ele privatizou a Vale do Rio Doce. Lembrei-me do pai dele, quando passamos do Império para a República, quando perguntaram [o que ocorreria] se a família real não fosse embora, ele falou “fuzila a família real”. [O avô de FHC teria dito isso.]
Está valendo?
Não. São metáforas, formas de expressão.
O sr. o admira?
Ele [FHC] está para ganhar o título de princesa Isabel da maconha, porque quer liberar as drogas no Brasil.
E Lula?
Pelo amor de Deus, não vou nem responder [risos].
Como avalia o governo Temer na economia?
A âncora da inflação é a perda de poder aquisitivo, não tem mérito do governo. A legislação trabalhista é completamente madrasta para quem quer empregar. Segundo os empresários, não segundo Bolsonaro, o trabalhador vai ter de decidir: menos direitos e emprego ou todos os direitos e desemprego.
Por que é contra a reforma da Previdência?
Completamente contra. É um remendo de aço numa calça podre. Está muito forte a proposta dele.
É a favor da exclusão dos militares da reforma?
A carreira militar tem tanto privilégio que nenhum deputado tem filho militar.
O senhor tem três filhos no Legislativo.
Não tem nada a ver. Eles viram que o pai sofreu, trabalhava 80 horas por semana [no Exército], com salário lá embaixo. Não queriam essa vida.
E vida de deputado é boa?
É o céu e o inferno. Se bem que vai virar inferno na semana que vem, quando o nome do pessoal vem à tona [na lista de pedidos de inquéritos do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, com base em delações da Lava Jato].
Nas Forças Armadas, não teria de ter reforma previdenciária?
Se nos colocarem os mesmos direitos trabalhistas, vão ver as Forças Armadas em greve, é isso que vocês querem? Não estou pedindo hora extra, só reconhecimento. Na hora da dor de barriga, lembram-se da gente. É Olimpíada, Copa, o problema no Espírito Santo.
E na política, como vê o governo Temer?
Está fazendo tudo para se manter vivo, só isso. Não vou ajudar a desestabilizar, mas não votar tudo o que ele quer. Meu voto não é comprado.
O que acha de Temer ter auxiliares envolvidos na Lava Jato ?
Se eu chegar lá um dia, vou botar militares em metade dos ministérios, gente igual a mim. Ele está botando gente igual a ele. Quer que eu continue? Acho que não precisa.
Na outra metade do ministério, colocaria mulheres, gays?
Eu não vou perguntar, não vou ter cota de lésbica.
Se for uma pessoa publicamente gay?
Se ela for competente, vai ocupar a função, se eu convidar e se ela topar, né… Agora, você não pode fazer da sua opção sexual carteira de trabalho. Você vê a Eleonora Menicucci. Declarou que faz sexo com homens e mulheres e seu grande orgulho é a filha gay. A Dilma a escolheu para secretária de Política para as Mulheres. Você acha que ela representa a minha mãe, dona Olinda, de 89 anos?
Se tivesse alguém que falasse isso que achasse competente, o senhor nomearia?
Não, não, não. Vocês estão desgastando os valores familiares. Daqui a pouco vai virar uma anarquia esse Brasil aí.
E isso não é homofobia?
Se eu sou deputado e te canto agora, você vai se sentir bem? Não, né? Então, o trabalho nosso não tem nada a ver com opção sexual. Você começa a falar por aí “eu sou lésbica” para ver se uma mulher aí simpatiza contigo…
O sr. foi acusado de homofobia e racismo várias vezes.
Sou acusado de tudo, só não de corrupto. Viu algum deputado devolver dinheiro que recebeu de empresário para campanha? Só eu.
O sr. tem um braço direito?
Tenho amigos. Ontem [segunda] almocei com gente do sistema financeiro. Não vou falar quem. Já tive reuniões com variados setores que mexem com bilhões em SP.
O empresariado não quer mais curtir férias na Flórida. Quer ficar no Brasil. Como podemos ajudar a resolver a violência? Não vai ser com política de direitos humanos.
Uma das medidas que o senhor defende é o armamento.
Foram fazer um escracho na minha casa e ameaçaram entrar. Eu falei: “Se entrarem, não sairão”. Agora o Ministério Público quer saber o que é “não sairão”. É atirar neles. Não, “não sairão” é dar cafezinho, água gelada.
Tenho três armas e muito cartucho. Ia embalar e dar balinha para chupar. Entra na minha casa, estupra minha mulher, fode a minha filha, e eu tenho que bater palmas para liberdade de expressão?
Por isso que essa porra desse país está nessa merda aí. E por isso que o pessoal gosta de mim. Eu não estou maluco! E vocês, né, de esquerda, jornalista de esquerda está cheio, né? Vocês estão cavando a própria sepultura.
Ricardo Borges/Folhapress | ||
O deputado Jair Bolsonaro, no clube de subtenentes e sargentos, no Rio |
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RAIO-X
Origem
Nasceu em Campinas (SP), em 21 de março de 1955
Formação
Militar e professor de educação física. Cursou a Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende (RJ)
Carreira Política
Hoje em seu sétimo mandato, foi o deputado federal mais votado pelo Rio em 2014. Também foi vereador
Filhos
É pai de Carlos Bolsonaro (vereador no Rio), Flávio Bolsonaro (deputado estadual no RJ) e Eduardo Bolsonaro (deputado federal por SP)