No Dia do Policial Civil e Militar, comemorado em 21 de abril, um comissário e um tenente falam sobre a importância das carreiras para a sociedade
Créditos: Caroline Garske O Informativo do Vale
Vale do Taquari – Muita coisa mudou desde a década de 70 para cá dentro da Polícia Civil e demais órgãos públicos. O que não mudou foi a paixão por “se sentir útil” que o comissário da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) de Lajeado, Rui Käfender (71), alimenta pela profissão. Formado na academia de polícia em 1976 e aposentado em 2013, Käfender retornou à ativa no final do ano passado por meio do Programa de Policiais Civis Aposentados para Prestação de Tarefa por Tempo Determinado.
Segundo ele, a honra de servir à segurança pública resulta em auxiliar as pessoas que precisam. “A gente se sente útil. As pessoas vêm aqui na delegacia de mulher e nós as escutamos. Aqui a gente também tem que resolver a questão da família, porque tem filho e idosos no meio”, comenta. O comissário conta que, diferente das delegacias de pronto atendimento onde são registradas as ocorrências, a Especializada tem o papel de dar apoio a quem necessita. “Aqui na delegacia de mulher a gente tem que se virar para resolver a situação dos outros, porque os casais têm problemas e a gente está aí para isso. Eles nos procuram e temos que procurar ajudar, não é fácil.”
O policial conta ainda que, a rotina de lidar com problemas, principalmente nas famílias, faz com que a vida pessoal seja afetada. “Às vezes a gente não consegue nem dormir de noite pensando no que vai ser no dia seguinte. Porque lembra que a pessoa estava aqui, mas ela não te escuta, ela fala aquilo que ela está pensando, remoendo, e isso é terrível. Na maioria das vezes elas saem daqui satisfeitas, agradecendo, mas às vezes passam uns meses e voltam com o mesmo problema”, relata.
A carreira
Natural de Estrela e criado no interior, Rui Käfender trabalhou como servente de pedreiro e garçom. Certo dia, o anúncio em um jornal foi o suficiente para mudar sua vida. “Vi no jornal sobre concurso para Polícia Civil e o policial da foto estava de gravata, era uma propaganda. Eu pensei ‘eu tenho que ser alguém de gravata’. Hoje não posso nem ver gravata. Foi por isso que eu entrei, só por isso”, relembra, aos risos. Aos 71 anos, no entanto, ele admite: “isso é uma cachaça”. Formado em janeiro de 1977, a profissão se tornou o vício de Käfender. “Sou uma pessoa um pouco impaciente, tenho que ter uma atividade, se não, não dá.”
A aposentadoria
Aposentado compulsoriamente pelo Estado em 2013, Rui Käfender seguiu trabalhando voluntariamente na Polícia Civil de Lajeado. “Eu não estava preparado para me aposentar, eu achei que ia até 70 ou 75 anos de idade, mas me aposentei com 65. Eu não queria parar, aí fiquei trabalhando como voluntário. Como ano passado abriu vaga para aposentado que quisesse voltar, me candidatei e voltei”, relata o policial, que, com ajuda das filhas, organizou a papelada para voltar a atuar na segurança pública.
DE VOLTA: após aposentadoria compulsória, Rui Käfender retornou à ativa por meio do Programa de Policiais Civis Aposentados (Foto Lidiane Mallmann)
Ato de bravura demonstrado todos dias
Em 2005, com 23 anos, Edilnei Vandré Gravina (37) estava quase perdendo as esperanças de ser chamado no concurso que havia prestado para soldado da Brigada Militar, quando, após longa espera, foi nomeado. Em 2009, com apenas quatro anos de profissão, passou por uma provação e com cinco anos como soldado, tal desafio resultou na promoção a segundo sargento, o que significou uma ascendência precoce na carreira.
A provação referida, trata-se de um salvamento que ele, junto a outro colega soldado, precisaram realizar em uma casa de repouso de idosos de Estrela. Sem equipamento adequado e com um treinamento básico para situações de incêndio, os policiais militares entraram no estabelecimento e conseguiram realizar os primeiros salvamentos e retirar os idosos até a chegada do Corpo de Bombeiros. “Chegamos lá e já estava tomado de uma fumaça muito densa e escura. Não conseguíamos enxergar e não conhecíamos a área. Eram pessoas muito debilitadas, que precisavam de cadeira de rodas, algumas usavam até amarras nas camas para não cair”, relembra.
Os soldados, mesmo com pouca experiência, assumiram o risco e entraram no local. “A gente ficou um bom tempo até conseguir chegar no foco do incêndio. Até que conseguimos, só que nesse quarto a situação era mais crítica, porque não era só fumaça, tinha muita labareda.” Quando finalmente chegou ao local, o então soldado Gravina notou a gravidade da situação. “O que chamava mais atenção quando fomos retirar os três senhores, que já estavam bastante debilitados e com idade avançada, é que quando a gente pegava eles para carregar, a pele estava solta. Não pegou labareda neles, mas o calor fez soltar a pele”, recorda. O policial militar conta que foi preciso retirar os idosos por uma janela e utilizar colchões para carregá-los.
Após o salvamento, os jovens soldados também precisaram ser encaminhados para atendimento médico por terem inalado a fumaça. “Dava a sensação de que a fumaça era sólida quando entrava na boca e no nariz. Parecia que a cabeça ia explodir. Fomos para o hospital, fizemos oxigênio, tomamos remédios e logo depois fomos liberados.” Até hoje, Gravina diz que não consegue dimensionar o risco que correu.
Embora o atendimento da ocorrência tenha resultado em salvamento de vidas e, após, em uma promoção na carreira, Gravina prefere não ver como uma glória, já que um dos idosos acabou não resistindo e falecendo após o incêndio. “Eu tive um benefício grande na carreira, mas é um episódio triste. Não me sinto bem em ficar contando como vantagem”, afirma.
Ascensão na carreira
Hoje, o soldado que ajudou a salvar vidas em uma casa de repouso, é o tenente Edilnei Vandré Gravina do 40º Batalhão de Polícia Militar de Estrela. Ele também atua como professor da disciplina de Instrução de Policiamento do Curso de Formação de Soldados da Brigada Militar de Lajeado. Gravina conta que o salvamento dos idosos em 2009 resultou em uma promoção por ato de bravura para os dois policiais que atuaram no incêndio. “Na época eu era soldado, então fui promovido a 2º sargento. Depois eu fiz o curso de sargento, voltei e fui promovido a 1º sargento. E agora por último prestei concurso para tenente”, detalha.
Salvando vidas
O tenente Gravina lembra que a admiração pela função do policial e o gosto pelo militarismo o fez ingressar na carreira, quando ainda era um jovem que trabalhava na roça, no interior de Fazenda Vilanova. “Queria fazer alguma coisa de bom que tivesse uma efetividade na sociedade e que pudesse exercer alguma coisa diferente e boa.” Todo dia, conforme ele, há uma luta e uma vitória diferente e que, muitas vezes passa despercebida. “Ao prender alguém que está com uma arma, a gente pode estar salvando uma vida. É muito bom chegar em casa tranquilo e pensar que aquele cara que tem um histórico criminal de violência e que por termos tirado a arma dele, podemos ter evitado uma, duas mortes ou talvez um crime grave.”
– Como ingressar nas carreiras
A seleção para as carreiras de Policial Civil e Militar é feita por meio de Concurso Público pelo Estado do Rio Grande do Sul. O processo é composto por prova escrita, exames médicos, prova física, exame psicológico, sindicância da vida pregressa, que são os antecedentes e exame toxicológico, que precisa apresentar resultado negativo. Para a Brigada Militar, os editais preveem como requisitos idade entre 18 e 25 anos para soldados, Ensino Médio completo e carteira de habilitação categoria B. Para a Polícia Civil, a idade mínima é de 18 anos e é exigido curso superior e carteira de habilitação categoria B.
– Saiba Mais
O Dia do Policial Civil e Militar é celebrado em 21 de abril em homenagem à figura de Tiradentes, patrono da polícia brasileira. O homem, considerado herói nacional, morreu enforcado nesta mesma data em 1792, como um dos membros da 6ª Companhia de Dragões de Minas Gerais, que lutou no movimento de independência que ficou conhecido por Inconfidência Mineira.