Por Oscar Bessi Correio do Povo
Não sei se foi porteiro de condomínio carioca ou um tripulante desses navios que vomitam óleo no mar alheio. Mas alguém revelou os insólitos privilégios dos militares estaduais, responsáveis pelo fracasso da reforma econômica e pelo colapso financeiro do estado. São mesmo uns privilegiados, esses militares estaduais gaúchos. Policiais ou bombeiros. Dentre mais de 30 direitos trabalhistas existentes no país, eles são trabalhadores sem direito a nem meia dúzia destes. E azar se não são pagos no final do mês, não podem fazer greve. Nem podem ter outro emprego, pela dedicação exclusiva. Não têm sequer FGTS. Sujeitos a rigorosos regulamentos disciplinares, neste país onde má conduta é quase regra e vira clipe de música e roteiro de novela, se eles forem demitidos por isso, saem sem nada.
E não é difícil ver a fartura de privilégios desses militares. Encarar assaltantes de banco com armas de guerra, por exemplo. Tão prazeroso e escandaloso que nem senador consegue. A população em fuga corre para um lado, com medo de morrer, e o policial militar vai lá, no sentido contrário, ao encontro da morte. Entrar no breu desses covis dominados por facções, onde exércitos do tráfico, armados com fuzis, recebem a bala qualquer viatura, é puro prazer. E as custódias? Dias e noites inteiras sem comer nem dormir direito, só para cuidar de um preso que pode ser resgatado por sua facção.
E entrar no incêndio, no prédio que desmorona, na mata, no deslizamento, na avalanche, na tempestade, numa enchente? E segurar a massa revoltada num jogo de futebol? E patrulhar cidades inteiras sozinho na noite? E encarar agressores de mulheres, armados e consumidos pelo ódio, ou resgatar crianças estupradas em pontos de tráfico? E enfrentar tiroteios diários enquanto a família em casa fica sem nenhuma garantia de que seu pai, ou mãe, volta? E adentrar o mar bravio para resgatar aquele banhista que se descuidou? São muitos privilégios, não cabem aqui. Talvez por isso o povo ligue para os fones 190 e 193 a todo instante. Não é porque lembram imediatamente desses privilegiados como esperança de salvação quando o desespero bate. Que nada. É só festa.
Pobre Estado. Vai falir por causa desses caras que correm para todo lado, o tempo todo, socorrendo seu povo. E não duvido que, volta e meia, algum militar estadual pareça que está salvando uma vida, mas deve estar superfaturando alguma obra ou licitação. E o soldado, no meio da ocorrência, tenha dezenas de assessores muito bem remunerados, a gente que não vê. Se manifestantes gritam “não acabou, tem que acabar, quero o fim da polícia militar” vou completar “e na hora do meu medo, pra quem é que vou ligar?”. Para os privilegiados. Óbvio.