O encontro, dividido em quatro blocos e com 2h30min de duração, marca o início da campanha eleitoral
No primeiro debate da campanha eleitoral, promovido neste domingo (6 de julho) pela Rádio Gaúcha, os oito candidatos ao governo do Estado deram uma mostra do que vem pela frente nos próximos três meses. Durante duas horas e meia de um embate sem golpes baixos, eles apresentaram propostas, rebateram críticas e divergiram sobre temas polêmicos.
Talvez por se tratar da estreia na corrida pelo comando do Palácio Piratini, os concorrentes mediram cada palavra e cada movimento. Evitaram levantar a voz e, na maior parte do embate, fugiram do confronto mais ríspido.
O clima foi de respeito entre Ana Amélia Lemos (PP), Edison Estivalete Bilhalva (PRTB), Humberto Carvalho (PCB), João Carlos Rodrigues (PMN), José Ivo Sartori (PMDB), Roberto Robaina (PSOL), Tarso Genro (PT) e Vieira da Cunha (PDT).
Nos bastidores, eles conversaram e não deixaram transparecer nervosismo. Mas isso não significa que não tenha havido momentos tensos. Um deles trouxe à tona o tema da dívida do Estado com a União. O governador Tarso Genro disse que sua gestão “não se acovardou” diante do problema. Viera rebateu, chamando Tarso à “realidade” – mais tarde, chegou a dizer que acreditava estar vivendo em um Estado diferente daquele mencionado por Tarso e tachou de “tímida” a atuação de Tarso na defesa da renegociação.
Outra situação tensa envolveu Ana Amélia e Robaina. O candidato vinculou a senadora à ex-governadora Yeda Crusius (PSDB) e questionou sua postura ideológica. Ana Amélia rechaçou a discussão sobre “esquerda e direita” e afirmou que esse tipo de debate “não coloca alimento no prato das pessoas”. Quem saiu estrategicamente pela tangente foi Sartori. Logo na primeira pergunta, usou quase todo o tempo para se apresentar ao público. De resto, investiu em um discurso moderado. Nas próximas duas páginas, confira o que disseram os candidatos e os temas que ganharam mais destaque.
José Ivo Sartori, Roberto Robaina, Tarso Genro e Vieira da Cunha
Primeiro bloco
O debate começou com uma pergunta de Ana Amélia Lemos a Vieira da Cunha sobre o tema educação, sorteado previamente. Os candidatos falaram dos planos para a educação e também a respeito da situação financeira do Estado, crescimento da economia, Presídio Central e manifestações de junho de 2013. Veja um resumo das ideias dos candidatos:
Ana Amélia Lemos: disse ter compromisso de honrar o reajuste que o atual governador, Tarso Genro, concedeu aos professores, e afirmou que, na educação, o mesmo olhar voltado aos professores tem de ser dado aos alunos. “Minha preocupação não é olhar o passado. É o olhar o futuro. Meu compromisso é com a seriedade, não gastar mais do que arrecadar”.
Tarso Genro: salientou que o governo deu 76,6% de correção salarial aos professores e lembrou que a transferência de presos do Presídio Central de Porto Alegre para outras penitenciárias já começou. “Nenhum governo deu a metade do que nós demos aos professores. (…) O Rio Grandeo do Sul foi o Estado que mais cresceu no Brasil. (…) No próximo período, temos que articular outra luta que é reduzir os repasses da dívida a União, que são extorsivos”.
Vieira da Cunha: o candidato prometeu retomar o projeto de escolas em tempo integral e pagar o piso aos professores, e disse que Tarso Genro está “muito conformado” sobre a dívida do Estado com a União. “Como trabalhista, vemos a educação com a prioridade que ela tem. Um CIEP construído hoje é um presídio a menos que teremos que construir amanhã. Tira a criança do caminho do crime. (…) Desafio é lutarmos para modificar a legislação para receber recursos federais”.
José Ivo Sartori: começou se apresentando e falando sobre sua coligação, elogiou os programas de governo de Tarso Genro, salientou que não fará promessas que não conseguirá cumprir e citou ações quando era prefeito de Caxias do Sul. “Temos diferença nessa coligação, mas o que importa é a Unidade. (…) Parabéns (Tarso) pelos programas que o senhor realizou. Tenho certeza que o Rio Grande é maior que nossas diferenças”.
Roberto Robaina: o socialista defendeu a participação do PSOL nas manifestações de junho de 2013, criticou a polarização PT x PSDB, ligou Ana Amélia Lemos à ex-governadora tucana Yeda Crusius e disse que o seu partido estava em sintonia com os protestos. “Em política, passado tem muita importância”. (…) “Quando discuti o governo da Yeda, não é só divergência ideológica. O governo Yeda lapidou o patrimônio público, com corrupção”.
Segundo bloco
No segundo bloco, as perguntas foram previamente elaboradas, começando pelo tema Parcerias Público-Privadas. Os candidatos também debateram sobre aumento de impostos, folha de pagamento do funcionalismo, saúde e a atuação da Brigada Militar nos protestos de junho de 2013. Veja o que disseram alguns candidatos:
Ana Amélia Lemos: defendeu um trabalho para evitar o aumento da carga de impostos, melhoria de gestão e redução do número de Cargos de Confiança (CCs). “Será feito um esforço muito grande para evitar o aumento dessa carga (de impostos). Não podemos gastar mais do que arrecadamos. (…) Na saúde, 60 toneladas de medicamentos foram colocados no lixo”.
Tarso Genro: “afastando o derrotismo”, argumentou que o Estado vive um momento excepcional, citou que o PIB gaúcho é “o dobro, triplo do país” e justificou a utilização de empréstimos e depósitos judiciais. “Se não tivesse, teria levado ao sucateamento. Pela primeira vez, se investe 12% em saúde”.
Vieira da Cunha: disse que a segurança é um assunto muito sério, comentou sobre os protestos e ironizou, afirmando que não está “vivendo no mesmo Estado do governador”. “São 22 homicídios por 100 mil habitantes. (…) Uma coisa é manifestação. Eu lutei contra ditadura. Mas nunca usamos máscara, nem depredação. A Brigada tem que garantir a ordem”.
José Ivo Sartori: afirmou que é preciso aumento do efetivo policial e integração entre todos os organismo de segurança. “Temos que educar nosso jovens para não violência, para cultura da paz. Não podemos continuar com essa impunidade. Serão necessárias mudanças muito profundas, inclusive na área prisional”.
Os candidatos Ana Amélia Lemos, João Carlos Rodrigues, Edison Estivalete Bilhalva e Humberto Carvalho
Terceiro bloco
Na terceira parte do debate, os candidatos novamente fizeram perguntas entre si. Os temas foram educação, impostos, investimentos no desenvolvimento do Estado, qualidade dos serviços públicos e a dívida pública do Rio Grande do Sul. Acompanhe um resumo das principais manifestações:
Ana Amélia Lemos: voltou a dizer que honrará o reajuste dado aos professores pelo atual governador Tarso Genro, mas criticou a forma que o governador concedeu os reajustes e afirmou que Tarso não investe 12% em saúde, sobrecarregando municípios. “Eu sou egressa de escola pública. Fui bolsista no Ensino Médio. (…) A valorização dos professores está entre as questões prioritárias. (…) Nenhum país teve avanço sem investimentos maciços em educação. (…) Há necessidade urgente de reversão desse pacto federativo. Quando cidadão paga imposto, não quer saber se é da União, Estado”.
Tarso Genro: aposta na estratégia de mostrar resultados, falar de programas e de números, e quer quebrar a tradição do Estado de não reeleger governador. Fez críticas ao governo de Antônio Britto, que foi citado pelo candidato Vieira, disse onde os recursos foram utilizados em seu governo e rebateu as críticas do pedetista. “Até pouco tempo o PDT estava no governo. (…) Fui o primeiro governador que fez o debate para reestruturar a dívida. Sem esse primeiro passo, não teremos condição de governar. (…) Eu liderei o Estado para reestruturar o indexador. (…) O Estado tem problemas, é óbvio que tem. Mas isso não quer dizer que não tenha melhorado. Estão aí os números”.
Vieira da Cunha: citou as manifestações do ano passado e disse que o povo não está satisfeito com os serviços públicos. Criticou a qualidade da prestação dos serviços, falou sobre os problemas nas estradas e seguiu na linha de ataques ao governo petista. “Cadê o alinhamento das estrelas (sobre a relação com o governo federal)? (…) Tenho andado muito com nosso candidato Lasier Martins e tenho ouvido muitas reclamações, principalmente infraestrutura. (…) O nível de investimento no Estado é ridículo, foi baixíssimo. Por isso temos essas condições das estradas”.
José Ivo Sartori: o candidato do PMDB citou ações desenvolvidas na prefeitura de Caxias do Sul e lembrou sua trajetória no movimento estudantil. “Essa questão da saúde não se resolverá se não houver efetiva participação do governo federal, Estado e municípios. (…) O Estado tem condições sim. Mas tem que lutar por um pacto federativo que seja justo com Estados e municípios. (…) Não esperem de mim promessas vazias”.
Roberto Robaina: o candidato afirmou que o Estado não está bem, citou número de analfabetos e problemas na saúde e fez críticas aos gastos públicos com a Copa do Mundo. “Teu critério (para o governador Tarso Genro) é somente de PIB. (…) Não sou contra a Copa, sou pai de um ex-jogador de futebol, mas o PT deveria ter consultado o povo (sobre os gastos com o Mundial). (…) Não é possível que o RS siga pagando essa dívida. Exigimos auditoria”.
Considerações finais
Na última parte do debate, os candidatos tiveram dois minutos para as considerações finais. Leia o que alguns deles falaram:
Ana Amélia Lemos: “Estou muito honrada com desafio, numa coligação ‘Esperança que une o Rio Grande’. A sociedade quer mais transparência. Estado Enxuto. Não adianta gastar mais, sem responsabilidade. Estamos com único compromisso, o de dar resposta adequada à sociedade”. Disse também que é preciso unir o Rio Grande do Sul e promete manter o que é bom. “É para a dona de casa, para o trabalhador, para o produtor. São grandes os desafios, mas temos capacidade, com criatividade e talento”, complementa.
Tarso Genro: disse que faria rápidas observações e que há dois modelos propostos nessa eleição. “Primeiro (primeira observação), Olívio (Dutra, ex-governador do PT) entrou na Justiça contra a dívida; segundo, criminalidade, até o nosso governo, apenas 20% dos homicídios eram elucidados. Agora, 70%. (…) Um (modelo) é o da demissão voluntária, arrocho salarial, fim dos concurso. Nós adotamos outro caminho. Aqui tem duas propostas bem diferentes. Uma que eu defendo e outra que fala em choque de gestão.”
Vieira da Cunha: “Aqui não há maquiagem. Não há truque. Não há marqueteiro dizendo o que tem que dizer. Tarso não precisa se preocupar porque bons programas serão mantidos. Esse é um problema do Rio Grande. O que é do outro não presta”.
José Ivo Sartori: “Queremos governar para todos. Não vamos governar para um partido. Sabemos que o Rio Grande do Sul tem diferenças, mas o Rio Grande do Sul é muito maior. Quero agradecer a todos”.
Roberto Robaina: falou sobre as manifestações de junho e lembrou que a candidata a vice, Gabriela Tolotti, estava nas mobilizações. “Os recursos públicos vão ser entregues para quem? Na lógica atual, é para sustentar empreiteiras, bancos”.